... e em resposta o lobo disse, imitando em forma de troça,
a voz da pobre vovó:
- Minha filhinha, esses olhos tão grandes são para te ver
melhor!
Sentindo um leve calafrio, ouvindo a sua “avó” sugar alguma
coisa parecida com saliva, a pobre menina sentiu as pernas bambearem e uma
forte fisgada no baixo vente. A dor foi tão forte que seus joelhos se dobraram.
Ela apoiou um deles no chão e sentiu um líquido quente entre as coxas. Ao olhar
para baixo, percebeu o sangue!
“Não, não... Mamãe falou que isso poderia acontecer, mas
agora, logo agora?”
Ela não sabe explicar bem, mas a “vovó” pareceu sentir o
cheio de sangue e quase saiu de baixo das cobertas quando percebeu o que havia
acontecido! Ergueu a cabeça por baixo das cobertas, como se farejasse e
degustasse o ar, e a mocinha pode reparar que o nariz da velhinha estava muito
maior do que ela lembrava!
- Vovó, por que você está com o nariz tão grande?
Cerrando os olhos enquanto enchia os pulmões, antes de
responder, o Lobo sentiu um leve estremecer de desejo percorrer todo o seu
corpo. O cheiro de sangue o estava deixando louco! Mal conseguindo conter a
saliva dentro da boca e o pau quieto, ele respondeu:
- É para... - Mais uma inspiração profunda! - É para te
cheirar, cheirar melhor, minha netinha!
Enquanto falava, ele deslizou a mão peluda para cima do
pênis ereto e começou a se masturbar lentamente enquanto devorava a menina, apelidada
de Chapeuzinho Vermelho, com os olhos. A besta desejava ter aquele corpo para
comer e para estuprar! A fome se misturando com tesão, o cheio de adrenalina e de
sangue inundando os sentidos... Tudo isso estava deixando o monstro totalmente entorpecido!
A respiração do lobo estava ofegante, sua mão grossa alisava
o corpo duro e cravado de veias e a cabeça bulbosa e vermelha do seu membro
enquanto! Apesar de ter feito uma refeição a pouco tempo, sua barriga emitia
sons guturais que denunciavam sua voracidade. Sua parte humana estava se
perdendo dentro de sua cabeça, dando lugar apenas ao seu lado lobo, ao seu lado
de predador. Agora estava agindo por instinto, estava no “automático”!
O bicho, que era todo músculos, pelos e garras! Primeiro as mãos saíram de baixo e arrancaram
a touca rosa de pano, deixando as orelhas pontiagudas e aguçadas a mostra.
Depois começou a se erguer da cama e a coberta grossa passou a deslizar pelo
seu corpo, lentamente e a grossa manta que o cobria caiu para seu peito e expôs
a boca, um rasgo que ia de um lado a outro do rosto, passando por baixo de um fuço
longo, encimado por um nariz preto e úmido. Uma fileira de dentes pontiagudos e
afiados se aninhava por trás daqueles lábios molhados, sobre gengivas negras. A
baba escorria, molhava o pelo e pingava em fios longos e pegajosos. Quando a
aberração finalmente se pôs de pé, Chapeuzinho Vermelho viu que a cama estava
sem colchão, ele era enorme e estava o tempo todo sentado no chão. A ponta das
orelhas quase roçava no teto assim que ele se pôs completamente de pé,
respirando ofegante, com a musculatura retesada embaixo da pele coberta de
pelos marrons, a manta desceu pelo seu corpo e se acumulou sobre seu pau,
completamente ereto e pulsante! O Lobo iniciou um lento movimento para frente e
parecia rir enquanto observava, devorando e saboreando, cada ação assustada da
menina.
Chapeuzinho estava paralisada. Sua bexiga se esvaziou no
momento em que a fera se revelou. A urina se misturou com o sangue e tingiu de
vermelho as meias brancas que ela usava e desenhou caminhos vermelhos pelas
pernas. Ela tremia e chorava, mal consegui respirar, muito menos falar. E o que
mais a assustava não era o tamanho daquele bicho, nem seu pelos, suas garras ou
o seu pau, que agora estava a mostra, mas sim aquela boca descomunal e
arreganhada pra ela. Ela mal conseguia desviar o olhar dela! Enquanto o lobo se
aproximava, a menina se encolhia contra a parede, mas sem tirar os olhos
daqueles dentes. Eles brilhavam, refletiam a leve luminosidade que vinha da
janela. Eram amarelados, pontiagudos e assustadoramente grandes e um tanto
projetados para fora.
Agora ele estava a apenas quatro passos de distância,
enquanto andava deslizava a mão sobre a pica e respirava cada vez mais forte,
mostrando sua excitação e apetite. O lobo conseguia ouvir o coração da mocinha
totalmente acelerado e sentia o cheiro da adrenalina cada vez mais intenso. O
monstro esticou o braço e a tocou. Primeiro a ponta da garra do dedo indicador
arranhou levemente o rosto dela, deixando correr um fio de sangue, depois
deslizou a mão para a nuca de Chapeuzinho, segurando ela pelos cabelos,
forçando-a a ficar de pé. Ela gritava e chorava, mas sem conseguir dizer nada!
Devorando cada segundo daquele jogo, sem a menor pressa, ele
trouxe o rosto dela para perto do seu, ignorando a pequena resistência que ela
oferecia de forma trêmula, fazendo a sua respiração quente e fétida cair sobre
ela. Roçou seus pelos do fuço contra a pela delicada de Chapeuzinho e correu
sua língua áspera no pescoço da menina, que estremeceu de medo e nojo.
Lentamente ele abriu a boca e alguns dos seus dentes tocaram aquela bochecha
tão clara, delicada e salpicada de sardas. Mas, finalmente, em meio as lágrimas
e medo, ela conseguiu balbuciar...
- ... a... a... a... sua... boca, a sua boca...
E antes mesmo que ela pudesse balbuciar mais alguma coisa, Lobo
chegou a boca bem perto do ouvido de Chapeuzinho e sussurrou bem baixinho,
misturando voz e rosnado:
- Shhh... Shhh... Shhhhhh... É pra te comer melhor!
Assim que ele falou, simplesmente abriu a mão e largou a
menina, que despencou de joelhos no chão, sem nenhuma ação. Ela apenas
observava a besta se contorcer, tentando por as mãos nas costas e rosnando
pragas para todos os lados. De repente a fera solta um grito ensurdecedor e se
contorce para tentar alcançar outra parte de suas costas. Chapeuzinho apenas ouviu
os vidros da parte de cima da janela se despedaçando com um terceiro tiro,
agora ela conseguiu ouvir também o estampido. Uma sombra saltou pela janela, se
pôs atrás do lobo e desferiu mais três tiros em suas costas. Uivando de dor,
babando e se contorcendo a fera caiu no chão estrebuchando, xingando e lançando
maldições! Mas aos poucos seus movimentos foram diminuindo até que ficasse
completamente imóvel.
A menina não esboçava reação, não conseguia expressar nada.
Seus olhos estavam vidrados naquele corpo volumoso e peludo, totalmente inerte
na sua frente. Mas ela foi retirada do transe por uma voz conhecida.
Uma voz de
mulher a chamou pelo nome.
- Sophie, Sophie, olhe pra mim!
E lentamente Sophie ergueu os olhos para sua mãe metida em
roupas de couro fervido, com presilhas e tachões de metal. Segurava em sua mão
uma arma que ainda soltava fumaça pelo cano e seus cabelos, que sempre ficavam
soltos ou arrumados em duas tranças, estavam presos num coque bem amarrado. A
Caçadora, ao ver que o inimigo estava fora de combate, correu e abraçou a
filha. Chapeuzinho estava chocada, não conseguia reagir. Sua mente não
compreendia aquilo, não entendia como um ser como aquele Lobo poderia existir e
entendia menos ainda como sua mãe, sua doce mãezinha, tinha perícias para
abater tal entidade.
Aos poucos Sophie começou a se recompor e as palavras vinham
aos engasgos. Ao mesmo tempo em que tentava falar era interrompido por um soluço
de choro. Por duas vezes ela vomitou alguma coisa que ainda restava em seu
estomago, tremia e tentava falar. Mas a sua mãe a abraçou forte mais uma vez e
começou a cantar baixinho uma musica da infância da menina. Cantava e pedia que
ela se acalmasse, falava que tudo ficaria bem e que o pior já tinha passado.
Com suavidade balançava o corpo para frente e para trás, tentando embalar sua
menininha. Chapeuzinho estava se deixando levar pelo embalo, pela voz da mãe e
principalmente pelo seu cheio, tão familiar. Aos poucos ela estava parando de
tremer e já sentia o coração batendo mais devagar, assim como a respiração
estava ficando mais pausada.
Mas o pesadelo ainda não havia acabado.
A mãe de Chapeuzinho se afastou um pouco da filha e olhando
dentro de seus olhos disse:
- Filha, sei que não está entendendo nada, mas preciso que
seja forte e que me ajude. Infelizmente sua avó já está morta, mas eu não posso
deixar as coisas como estão. Vamos, ao menos, enterrar ela! Você pode me
ajudar? Pode?
Sophie apenas balançou a cabeça para cima e para baixo
concordando com a mãe. Assim que obteve a resposta afirmativa da filha, a
Caçadora pôs a mão atrás das costas e com um movimento de polegar soltou uma
pequena trava que impedia que uma adaga se soltasse de sua bainha de couro. A
arma era linda, com cabo de madeira negra, adornado por arabescos de metal e
uma lâmina comprida e levemente curvada. A Caçadora pegou o Lobo pelo ombro e,
com a ajuda de Sophie, fez com que ele se virasse para cima.
Agora que estava mais calma, Chapeuzinho conseguia perceber
como a barriga daquela aberração estava dilatada, realmente sua avozinha
poderia estar lá. Com um movimento preciso, a Caçadora abriu um talho do
diafragma do lobo até seu umbigo e então Sophie viu o horror. Sua avó estava
lá, ainda inteira, mas com a pele começando a ser corrida pelo ácido do estômago
do Lobo e com os ossos todos quebrados. Face, crânio, costelas, braços, tudo!
Quando ajudava a mãe a puxar a velhinha para fora, ouvia alguns estalos dos
ossos quebrados se misturando aos soluços do seu choro.
Quando a velhinha estava quase com a metade do corpo para
fora, Chapeuzinho ouviu um som grave, meio abafado e baixo, como se fosse um
urso ou outro animal grande rondando por perto, mas era mais perto do que ela
poderia imaginar! Sem que elas percebessem o Lobo voltou a consciência e havia
aberto os olhos.
Ligeiro como uma serpente, com uma das mãos pegou e jogou a
adaga para longe e com a outra agarrou a Caçadora pelo pescoço e quase a matou
em um único movimento. Sophie gritou de forma estridente e sem saber como
voltou a colar as costas na parece. A Caçadora se contorcia e tentava respirar,
ao mesmo tempo em que tentava pegar sua arma. O Lobo demonstrava sentir fortes
dores por conta da barriga aberta, mas se mantinha firme em sua pegada. Aos
poucos ia subjugando a mãe de Chapeuzinho e se colocando de pé, como se as
foras retornassem aos poucos ao seu corpo! É bem certo que estar com o estômago
aberto e com uma velha pendurada para fora dificultou as coisas, mas ele
conseguiu o movimento. Agora a cena era a mais bizarra possível: Um ser com
corpo meio homem, meio lobo, com a barriga aberta e dela pendendo o cadáver de
uma senhora! E ele ainda estava segurando uma mulher com roupa de caçadora pelo
pescoço. Caçadora era brava, chutava o quanto podia, se contorcia, mas o Lobo a
havia pegado de jeito. Ele demonstrava irritação com aquilo tudo e com pouco
esforço, usando a mão livre, quebrou o pescoço da Caçadora com um movimento
simples, obtendo um som arrepiante de ossos partindo. Chapeuzinho olhava a mãe
nos olhos quando a fera fez o que fez, e ela pode ver a feição da mãe morrer e sua
vida se esvair.
Lobo então soltou o corpo da Caçadora, completamente sem
vida, no chão e passou a socá-lo com força e violência! Cada golpe brutal fazia
o corpo se mover em resposta e os ossos estalarem, se quebrando. E, quando ele
percebeu que Caçadora já estava bem triturada, se colocou de pé, ofegante e
cansado, com as mãos na cintura. E logo empurrou a velha de volta para dentro
de si e Sophie viu sua avó sumir dentro do Lobo, viu o rasgo na barriga dele se
fechar e se cicatrizar, como que por magia.
Em poucos segundo até mesmo os pelos nasceram onde antes
havia a cicatriz do corte com algumas queloides e depois nem mesmo elas existiam
mais. O Lobo se espreguiçou como se tivesse acordado de uma soneca e Chapeuzinho
viu caindo no chão as balas que a mãe havia atirado nele. Depois disso, ele
caiu de quatro, próximo ao cadáver da Caçadora, abriu a boca com um grito, fez
uma força e com um estalar de ossos ela se abriu mais ainda. Fez força novamente,
mais um par de estaladas se seguiu e agora ela se alargou para os lados, seu
queixo estava tocando o chão. Dessa maneira, com a boca muito maior do que era
antes, Lobo engoliu também a Caçadora, numa única bocada.
Chapeuzinho viu a garganta e o tórax da besta se alargarem
para dar passagem ao corpo de sua mãe, que visivelmente foi se juntar ao da avó
dentro do Lobo. Mas, inacreditavelmente, quando ele voltou a ficar de pé, sua
barriga aprecia apenas levemente inchada, não parecia conter todo aquele
volume, não estava da maneira quando ele estava inconsciente.
Com dois tapinhas na barriga e um ar de riso, o Lobo se
voltou para Chapeuzinho novamente e disse:
- Onde estávamos mesmo antes de eu ser interrompido?
Ah sim, a minha boca! Como eu estava dizendo, Sophie, e como
você mesma pôde ver, ela é pra eu te comer melhor!
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
domingo, 2 de junho de 2013
Sobre chifres, pelos (ou não) e areia!
Um leve roçar de brisa no rosto de Saim fez com ele
despertasse. Mas como quem tem grande preguiça, permaneceu deitado de olhos
fechados, apenas sentindo o solo sob suas costas. Mais alguns segundos e tentou
se mover. Uma dor aguda assaltou sua cabeça. Era como se um machado de guerra
estivesse brandindo lá dentro. Era a nítida sensação de uma ressaca violenta.
Já que estava na merda, ele resolveu voltar a dormir, mas não conseguiu. A dor
de cabeça estava tão violenta q atrapalhou até isso. Resignado, se forçou a
abrir os olhos e viu o céu. Estava completamente escuro, sem lua, sem estrelas,
sem nuvens, sem nada.
Aquilo fez a cabeça de Saim doer ainda mais. Ele não lembrava onde estava e nem como havia chegado ali. Sentou-se e viu que estava em uma espécie de deserto de areias negras, tão negras quanto o céu sobre sua cabeça. Cambaleante ele se levantou e sentiu novamente a brisa no seu rosto. Agora ela era mais forte e carregava um pouco de areia consigo. Ao olhar para as mãos, percebeu que havia retornado a sua forma natural. Aqueles que eram chamados de impuros dentro de sua espécie eram tidos como párias e com ele não havia sido diferente.
Os impuros nascem da união de dois lobisomens que possuem o gene recessivo que os permitam transmutar entre as formas de homem, lobo e lobo homem. Essa união é abominada e evitada a todo o custo. Mas o coração age de formas muito mais agressivas do que a razão é capaz de controlar. O amor é belo, mas cobra um preço altíssimo. Todos os que nascem dessa união são marcados de formas grotescas para que sejam vistos por todos como uma mácula dentro da sociedade. E com Saim a mácula foi pesada e cruel. Ao contrário de todos os outros, não possuía pelo algum em nenhuma de suas formas. Um homem careca, um lobo pelado e um lobisomem de pele asquerosa e grossa como couros de paquiderme. Como um coroa da deformidade, na sua forma de lobo-homem ainda tinha um par de chifres crescendo nas laterais da cabeça. Eles se enrolavam para trás, como os de um bode adulto. Ah esses chifres malditos. De tudo era o que mais incomodava Saim. Tanto que era comum vê-lo passando os dedos sobre eles, como se avaliasse sua espessura, comprimento e se estavam a crescer mais. Atualmente ele converteu este gesto de afagar os chifres como uma forma de centrar o pensamento, exatamente como um homem afaga sua barba quando se põe a refletir sobre algo.
Entretanto, fora sua aparência bizarra, era um exímio lutador. Nascido sobre a luz de Luna em sua forma completa nos céus, fora banhado por toda a sua claridade e recebeu de Gaia, como presente ou compensação, toda a sua fúria estocada em seu coração. Graças a isso, conseguiu angariar algum respeito e consideração dentro de seu grupo, podendo até mesmo almejar algum dia uma posição de prestígio ou liderança.
Agora ele vagava sem rumo por aquele areal infinito, não importava qual duna escalasse, qualquer que fosse sua escolha baseada em sua altura, ele apenas via imensidão, mais imensidão e mais imensidão de areias negras, cobertas por um céu igualmente negro. O vento estava aumentando, fazendo com que constantemente sua visão fosse parcialmente cegada.
Aos poucos, conforme caminhava indefinidamente por aquele lugar morto, a memória foi retornando. Lembrou-se da batalha em Agreva, a floresta de cipós azuis. Ela avia sido maculada, estava sendo devastada pelos lacaios malditos, tomada pela poluição, totalmente manchada de negro. Saim e mais uma dúzia de voluntários foram enviados para combater os seres tóxicos e suas máquinas amarelas. Chegaram de forma furtiva, divididos em três grupos, mas havia um maldito traidor. Bem, não se sabe se era um traidor ou se estava possuído. Saim viu quando um dos grupos teve sua localização entregue pelo traidor que, assim que cumpriu sua missão pareceu tomar noção do que fez e se suicidou, abrindo sua garganta com uma adaga de prata que ele roubou de um parceiro ao seu lado. Mas mesmo com o grupo perdendo um terço de sua força de ataque eles seguiram adiante. Com os lacaios entretidos em trucidar o primeiro grupo, os outros dois partiram com toda ferocidade para suas costas, e fizeram o que faziam de melhor, abriram tantas gargantas quanto fora possível. Um mar de sangue podre de misturou ao dos lobos-homem que foram sacrificados no início da carnificina. Os filhos a mãe Terra estavam se saindo vitoriosos. Estavam terminando de matar os últimos malditos, correndo atrás dos covardes que preferiram se enfiar em suas máquinas e escapar da peleja. E um desses malditos trouxe o inferno para terra. Na pressa da fuga, sem saber ao certo como pilotar aquelas armaduras malditas de metal e que sangravam sangue negro, ele deixou que ela tombasse e caísse sobre uma quantidade enorme de barris de metal. Estes barris armazenavam o sangue negro das maquinas. Este sangue negro logo entrou em combustão quando a armadura do maldito se desfez em uma bola de fogo e fumaça. O fogo gerado era estranhamente mais quente do que o comum e fazia com que a pele ardesse muito mais, os olhos lacrimejavam e ele continuava a queimar mesmo quando estavam longe dele. A vitória fora alcançada, mas todos iriam perecer ali, consumidos pelas chamas do sangue negro. Os malditos haviam caído, mas não sem antes derramar sua podridão sobre todos. Como um ultimo recurso, dois integrantes do grupo que possuíam dons extra terrenos, riscaram o chão da maneira que puderam e mandaram que largássemos tudo o que tivéssemos entrássemos ali, na porta que haviam acabado de escancarar. Mas, devido a pressa, deveriam fazê-lo em sua menor forma, como lobos. Não havia outro meio e assim foi feito. Saim foi quase um dos últimos, devido a fumaça inalada já estava tonto e teve grande dificuldade em se manter como lobo, apenas lembra-se de ter cambaleado até a abertura no chão e se jogado sobre ela, quase como se desmaiando sobre uma cama...
As lembranças voltaram fortes. Ele sentiu s olhos lacrimejarem, só de recordar do arder da fumaça. Cerrou as mãos, ferindo suas palmas com as garras e soltando um longo uivo de pesar pelos companheiros desaparecidos. Agora estava claro, ele estava em algum lugar da umbra, mas não sabia onde e nem como sair de lá. Após o uivo, ele parou para escutar, nem mesmo um eco como resposta. Aquilo o frustrou demais. Quebrado pela lembrança da morte dos amigos, isolado de todos os sobreviventes e em um local totalmente desconhecido em outra dimensão, Saim apenas se sentou, com a cabeça entre as pernas, afagou os chifres e respirou fundo. Pelo menos ali o ar estava muito mais limpo. Fechou os olhos e mais uma vez viu seus amigos morrendo, um a um por conta de uma traição. Orou à mãe Terra, para que ela o guiasse, para que ele pudesse ter um meio de sair dali. E, por mais que ele tentasse, a cena de morte não saia de sal cabeça e a medida que orava, sentia seu coração cada vez mais pesado e negro de fúria. Ela tomava conta de seu corpo, fazendo com que seus músculos tivessem espasmos. Sua vontade era atar o ar a sua frente, era correr, correr como se fosse rodar todo o mundo assim. Quando se u coração já estava pulsando em um ritmo alucinante, quando ele conseguia ouvir o pulsar do sangue fervente em suas veias, não aguentando mais a angustia daquele lugar inóspito, simplesmente correu.
Levantou-se em um salto e se pôs a correr! Corria e gritava de forma ensandecida. Como um animal prestes a atacar sua presa. Mas que presa? Saim apenas correu descendo uma enorme duna. Sua mente estava turva pela dor da perda dos companheiros e pela fúria da frustração daquele lugar maldito. A medida que avançava sua velocidade aumentava, em alguns momentos parecia que suas pernas não iriam conseguir acompanhar o ritmo da descida, mas ele imprimiu mais força esse manteve no ritmo. A dor de cabeça voltou, mais forte ainda. Aquilo o encheu de ódio e ele gritou, rosnou como uma besta. Tamanha era o seu desprendimento com a realidade que por um instante ele pensou ter visto suas patas entrarem em combustão. Era como se fagulhas saltassem de suas pernas. Não podia ser, mas era. Ao perceber aquilo, ele tentou correr mais rápido e conseguiu. Agora estava subindo uma duna, mas sua velocidade só parecia crescer. Era como se estivessem crescendo pelos de fogo sobre seu corpo, ele estava se acendendo como uma tocha. Tudo ao seu redor eram chamas, mas ele não sentia seu calor, elas apenas faziam com que ele se sentisse mais e mais forte.
A essa altura o cume da duna se aproximava, mas isso não o preocupava. Saim queria atingir os céus. A poucos metros da sua pista arenosa, ele percebeu que não possuía mais braços ou pernas, era agora apenas o fogo. Fogo somado a consciência, que pulsava e acelerava, deixando um rastro de fogo vítreo por onde seguiu. Ao alcançar o ponto mais alto, ele ascendeu aos céus, subiu tão alto que ao longe tudo não passava de uma imensa massa negra indistinguível. Subiu até o ar não existir, até não ser possível ver o chão, até não ver mais nada se não o vazio. Seu corpo ainda era só o fogo, mas agora começava a diminuir. Aos poucos o fogo se extinguia, dando lugar novamente a seus ossos, músculos e pele enrugada.
Por um instante, assim que o fogo se pagou, ele teve a sensação de estar flutuando dentro de um útero. Saim nada via, nada ouvia e nada sentia. Não conseguia se mover, não sentia frio nem calor, não respirava direito e toda noção de tempo espaço desapareceu. Não soube dizer quanto tempo ficou assim, mas numa mudança abrupta de cenário começou a mudar. Era como se um pessoa o estivesse puxando, como se alguma coisa o estivesse atraindo. Sim, definitivamente estava sendo arrastado. Cada vez com mais força e... Não, não estava sendo puxado ou arrastado, estava caindo. Cada vez mais rápido, o ar passava por ele de forma tão forte que a pressão da queda fez com que ele não conseguisse respirar e por uns instantes perdeu parcialmente a consciência. A sensação que teve era de que havia apenas piscado, mas quando abriu os olhos sentiu água em todo seu corpo. Rapidamente chegou ao fundo, recobrou os sentidos e aproveitou o chão rochoso para se impulsionar de volta para a superfície.
Finalmente, quando conseguiu por os cofres para fora da água percebeu que estava de noite. Luna ainda estava no céus, umas poucas nuvens vagavam e o céus estava qualhado de estrelas. Ele precisou nadar uns poucos metros até chegar na praia. A vegetação era baixa e pode ver ao longe uma mata densa. Do meio dela um torre de fumaça negra. Era Agreva que ainda ardia com as chamas tóxicas. Saim estava próximo do local de onde tinha partido. Sendo assim, não estava longe de casa. E se ele havia voltado, os outros também haveriam de voltar. Chacoalhando violentamente o corpo, se livrou da água que o encharcava e da areia grudada em sua pele.
Areia negra... Quando Saim se deu conta de que a areia grudada em seu corpo era completamente diferente d areia da praia, ele teve certeza que ele não esteve lá todo o tempo. Agradecendo a mãe Terra pelo auxílio, voltou a correr, agora sentindo a vegetação do litoral sob seus pés e em poucos minutos já estava avistando as árvores da mata. O solo estava coberto por folhas e ele já podia sentir cheiro de podre dos inimigos. Um lutador precisa retornar para terminar suas batalhas, por mais que estivesse sozinho, se ele precisava retornar para curar as feridas abertas por aqueles bestiais em sua deusa. Saim partia solitário para o final de sua sina.
Aquilo fez a cabeça de Saim doer ainda mais. Ele não lembrava onde estava e nem como havia chegado ali. Sentou-se e viu que estava em uma espécie de deserto de areias negras, tão negras quanto o céu sobre sua cabeça. Cambaleante ele se levantou e sentiu novamente a brisa no seu rosto. Agora ela era mais forte e carregava um pouco de areia consigo. Ao olhar para as mãos, percebeu que havia retornado a sua forma natural. Aqueles que eram chamados de impuros dentro de sua espécie eram tidos como párias e com ele não havia sido diferente.
Os impuros nascem da união de dois lobisomens que possuem o gene recessivo que os permitam transmutar entre as formas de homem, lobo e lobo homem. Essa união é abominada e evitada a todo o custo. Mas o coração age de formas muito mais agressivas do que a razão é capaz de controlar. O amor é belo, mas cobra um preço altíssimo. Todos os que nascem dessa união são marcados de formas grotescas para que sejam vistos por todos como uma mácula dentro da sociedade. E com Saim a mácula foi pesada e cruel. Ao contrário de todos os outros, não possuía pelo algum em nenhuma de suas formas. Um homem careca, um lobo pelado e um lobisomem de pele asquerosa e grossa como couros de paquiderme. Como um coroa da deformidade, na sua forma de lobo-homem ainda tinha um par de chifres crescendo nas laterais da cabeça. Eles se enrolavam para trás, como os de um bode adulto. Ah esses chifres malditos. De tudo era o que mais incomodava Saim. Tanto que era comum vê-lo passando os dedos sobre eles, como se avaliasse sua espessura, comprimento e se estavam a crescer mais. Atualmente ele converteu este gesto de afagar os chifres como uma forma de centrar o pensamento, exatamente como um homem afaga sua barba quando se põe a refletir sobre algo.
Entretanto, fora sua aparência bizarra, era um exímio lutador. Nascido sobre a luz de Luna em sua forma completa nos céus, fora banhado por toda a sua claridade e recebeu de Gaia, como presente ou compensação, toda a sua fúria estocada em seu coração. Graças a isso, conseguiu angariar algum respeito e consideração dentro de seu grupo, podendo até mesmo almejar algum dia uma posição de prestígio ou liderança.
Agora ele vagava sem rumo por aquele areal infinito, não importava qual duna escalasse, qualquer que fosse sua escolha baseada em sua altura, ele apenas via imensidão, mais imensidão e mais imensidão de areias negras, cobertas por um céu igualmente negro. O vento estava aumentando, fazendo com que constantemente sua visão fosse parcialmente cegada.
Aos poucos, conforme caminhava indefinidamente por aquele lugar morto, a memória foi retornando. Lembrou-se da batalha em Agreva, a floresta de cipós azuis. Ela avia sido maculada, estava sendo devastada pelos lacaios malditos, tomada pela poluição, totalmente manchada de negro. Saim e mais uma dúzia de voluntários foram enviados para combater os seres tóxicos e suas máquinas amarelas. Chegaram de forma furtiva, divididos em três grupos, mas havia um maldito traidor. Bem, não se sabe se era um traidor ou se estava possuído. Saim viu quando um dos grupos teve sua localização entregue pelo traidor que, assim que cumpriu sua missão pareceu tomar noção do que fez e se suicidou, abrindo sua garganta com uma adaga de prata que ele roubou de um parceiro ao seu lado. Mas mesmo com o grupo perdendo um terço de sua força de ataque eles seguiram adiante. Com os lacaios entretidos em trucidar o primeiro grupo, os outros dois partiram com toda ferocidade para suas costas, e fizeram o que faziam de melhor, abriram tantas gargantas quanto fora possível. Um mar de sangue podre de misturou ao dos lobos-homem que foram sacrificados no início da carnificina. Os filhos a mãe Terra estavam se saindo vitoriosos. Estavam terminando de matar os últimos malditos, correndo atrás dos covardes que preferiram se enfiar em suas máquinas e escapar da peleja. E um desses malditos trouxe o inferno para terra. Na pressa da fuga, sem saber ao certo como pilotar aquelas armaduras malditas de metal e que sangravam sangue negro, ele deixou que ela tombasse e caísse sobre uma quantidade enorme de barris de metal. Estes barris armazenavam o sangue negro das maquinas. Este sangue negro logo entrou em combustão quando a armadura do maldito se desfez em uma bola de fogo e fumaça. O fogo gerado era estranhamente mais quente do que o comum e fazia com que a pele ardesse muito mais, os olhos lacrimejavam e ele continuava a queimar mesmo quando estavam longe dele. A vitória fora alcançada, mas todos iriam perecer ali, consumidos pelas chamas do sangue negro. Os malditos haviam caído, mas não sem antes derramar sua podridão sobre todos. Como um ultimo recurso, dois integrantes do grupo que possuíam dons extra terrenos, riscaram o chão da maneira que puderam e mandaram que largássemos tudo o que tivéssemos entrássemos ali, na porta que haviam acabado de escancarar. Mas, devido a pressa, deveriam fazê-lo em sua menor forma, como lobos. Não havia outro meio e assim foi feito. Saim foi quase um dos últimos, devido a fumaça inalada já estava tonto e teve grande dificuldade em se manter como lobo, apenas lembra-se de ter cambaleado até a abertura no chão e se jogado sobre ela, quase como se desmaiando sobre uma cama...
As lembranças voltaram fortes. Ele sentiu s olhos lacrimejarem, só de recordar do arder da fumaça. Cerrou as mãos, ferindo suas palmas com as garras e soltando um longo uivo de pesar pelos companheiros desaparecidos. Agora estava claro, ele estava em algum lugar da umbra, mas não sabia onde e nem como sair de lá. Após o uivo, ele parou para escutar, nem mesmo um eco como resposta. Aquilo o frustrou demais. Quebrado pela lembrança da morte dos amigos, isolado de todos os sobreviventes e em um local totalmente desconhecido em outra dimensão, Saim apenas se sentou, com a cabeça entre as pernas, afagou os chifres e respirou fundo. Pelo menos ali o ar estava muito mais limpo. Fechou os olhos e mais uma vez viu seus amigos morrendo, um a um por conta de uma traição. Orou à mãe Terra, para que ela o guiasse, para que ele pudesse ter um meio de sair dali. E, por mais que ele tentasse, a cena de morte não saia de sal cabeça e a medida que orava, sentia seu coração cada vez mais pesado e negro de fúria. Ela tomava conta de seu corpo, fazendo com que seus músculos tivessem espasmos. Sua vontade era atar o ar a sua frente, era correr, correr como se fosse rodar todo o mundo assim. Quando se u coração já estava pulsando em um ritmo alucinante, quando ele conseguia ouvir o pulsar do sangue fervente em suas veias, não aguentando mais a angustia daquele lugar inóspito, simplesmente correu.
Levantou-se em um salto e se pôs a correr! Corria e gritava de forma ensandecida. Como um animal prestes a atacar sua presa. Mas que presa? Saim apenas correu descendo uma enorme duna. Sua mente estava turva pela dor da perda dos companheiros e pela fúria da frustração daquele lugar maldito. A medida que avançava sua velocidade aumentava, em alguns momentos parecia que suas pernas não iriam conseguir acompanhar o ritmo da descida, mas ele imprimiu mais força esse manteve no ritmo. A dor de cabeça voltou, mais forte ainda. Aquilo o encheu de ódio e ele gritou, rosnou como uma besta. Tamanha era o seu desprendimento com a realidade que por um instante ele pensou ter visto suas patas entrarem em combustão. Era como se fagulhas saltassem de suas pernas. Não podia ser, mas era. Ao perceber aquilo, ele tentou correr mais rápido e conseguiu. Agora estava subindo uma duna, mas sua velocidade só parecia crescer. Era como se estivessem crescendo pelos de fogo sobre seu corpo, ele estava se acendendo como uma tocha. Tudo ao seu redor eram chamas, mas ele não sentia seu calor, elas apenas faziam com que ele se sentisse mais e mais forte.
A essa altura o cume da duna se aproximava, mas isso não o preocupava. Saim queria atingir os céus. A poucos metros da sua pista arenosa, ele percebeu que não possuía mais braços ou pernas, era agora apenas o fogo. Fogo somado a consciência, que pulsava e acelerava, deixando um rastro de fogo vítreo por onde seguiu. Ao alcançar o ponto mais alto, ele ascendeu aos céus, subiu tão alto que ao longe tudo não passava de uma imensa massa negra indistinguível. Subiu até o ar não existir, até não ser possível ver o chão, até não ver mais nada se não o vazio. Seu corpo ainda era só o fogo, mas agora começava a diminuir. Aos poucos o fogo se extinguia, dando lugar novamente a seus ossos, músculos e pele enrugada.
Por um instante, assim que o fogo se pagou, ele teve a sensação de estar flutuando dentro de um útero. Saim nada via, nada ouvia e nada sentia. Não conseguia se mover, não sentia frio nem calor, não respirava direito e toda noção de tempo espaço desapareceu. Não soube dizer quanto tempo ficou assim, mas numa mudança abrupta de cenário começou a mudar. Era como se um pessoa o estivesse puxando, como se alguma coisa o estivesse atraindo. Sim, definitivamente estava sendo arrastado. Cada vez com mais força e... Não, não estava sendo puxado ou arrastado, estava caindo. Cada vez mais rápido, o ar passava por ele de forma tão forte que a pressão da queda fez com que ele não conseguisse respirar e por uns instantes perdeu parcialmente a consciência. A sensação que teve era de que havia apenas piscado, mas quando abriu os olhos sentiu água em todo seu corpo. Rapidamente chegou ao fundo, recobrou os sentidos e aproveitou o chão rochoso para se impulsionar de volta para a superfície.
Finalmente, quando conseguiu por os cofres para fora da água percebeu que estava de noite. Luna ainda estava no céus, umas poucas nuvens vagavam e o céus estava qualhado de estrelas. Ele precisou nadar uns poucos metros até chegar na praia. A vegetação era baixa e pode ver ao longe uma mata densa. Do meio dela um torre de fumaça negra. Era Agreva que ainda ardia com as chamas tóxicas. Saim estava próximo do local de onde tinha partido. Sendo assim, não estava longe de casa. E se ele havia voltado, os outros também haveriam de voltar. Chacoalhando violentamente o corpo, se livrou da água que o encharcava e da areia grudada em sua pele.
Areia negra... Quando Saim se deu conta de que a areia grudada em seu corpo era completamente diferente d areia da praia, ele teve certeza que ele não esteve lá todo o tempo. Agradecendo a mãe Terra pelo auxílio, voltou a correr, agora sentindo a vegetação do litoral sob seus pés e em poucos minutos já estava avistando as árvores da mata. O solo estava coberto por folhas e ele já podia sentir cheiro de podre dos inimigos. Um lutador precisa retornar para terminar suas batalhas, por mais que estivesse sozinho, se ele precisava retornar para curar as feridas abertas por aqueles bestiais em sua deusa. Saim partia solitário para o final de sua sina.
quarta-feira, 29 de maio de 2013
Sobre pulgas, medo e amizade
Sarah acordou sobressaltada de um sonho estranho. Não
conseguia se lembrar ao certo sobre o que era, mas sabia em seu coração que não
fora nada bom. Mesmo numa noite fria como aquela estava suada e sentia um leve
formigamento na palma de suas mãos.
Deitou-se de lado para tentar dormir novamente, mas sentiu um leve incomodo na garganta. A sede lhe assaltara de forma que agora incomodava e a forçava a ir até a cozinha. Isso a irritou, mas sabia que se não o fizesse, não conseguira voltar a dormir.
Lentamente se sentou na beirada da cama, calçou um pé do chinelo e tateou com um pé descalço na escuridão do quarto a procura do outro. Assim que o calçou se pôs de pé e caminhou lentamente até a porta, ainda remoendo a sensação do pesadelo. Aquela maldita mansão velha a enchia de medo e calafrios. Durante a noite todo o piso e o telhado estavam constantemente. Quando estava quase pegando na maçaneta, teve um segundo de vacilo e voltou para perto da cama. Apenas a luz da lua cheia não seria o suficiente. Acendeu um pequeno abajur que ficava ao lado da cama se sentiu mais confiante agora. Com passos decididos e firmes atravessou o quarto novamente e num único movimento abriu a porta.
Não havia ninguém. Samuel deveria estar ali. Ele havia sido designado pelo pai de Sarah para fazer a guarda da porta da filha. Aqueles eram tempos difíceis e nenhuma brecha poderia ser dada. A ausência de seu guarda fez com que a menina vacilasse. Samuel era obediente e nunca abandonava seu posto. Levemente Sarah tocou o batente da porta e sentiu que ainda estava quente, como se ele estivesse encostado ali a poucos instantes. Era uma noite fria e provavelmente seu guardião deveria ter ido ao banheiro. Esse pensamento fez com que ela relaxasse. Assim que tencionou as pernas para dar o primeiro passa para o corredor que levava até as escadas, sentiu uma leve picada em seu tornozelo. O tapete estava novamente infestado de pulgas. Aquilo a irritou de maneira tal que acabou por esquecer-se do pesadelo e do sumiço de Samuel.
Tentando coordenar suas passadas pelo corredor com breves coçadas no tornozelo, ela venceu a distancia até as escadas e se deparou com o salão interior da mansão. Nele havia corredores que direcionavam par o salão de entrada, logo a frente, para algumas salas de estudo, biblioteca, banheiros, dormitórios dos empregados e cozinha. Este último lugar sendo seu destino e lugar de interesse. Ao vislumbrar o amplo salão vazio, apenas iluminado pela luz prateada de Luna que tocava a mobília, os quadros e a tapeçaria, Sarah sentiu um leve arrepio subir por suas costas. Não sabia ao certo se era o medo voltando a apertar o peito ou o frio invadindo as pernas de seu pijama curto.
Degrau a degrau ela desceu as escadas, com sua mão suada tocando o corrimão gelado de metal. Os sons da casa ainda a assustavam, mas ela continuou. Seguiu com passos apertados e rápidos, passou pela lateral da escada, ouviu um ou outro barulho vindo dos alojamentos dos empregados... Ora um ronco, roa um gemido de alguma fornicação. Ela chegou a ter um relance de curiosidade, mas um estalo um pouco mais forte no piso a fez voltar a ideia original.
Deu uma corridinha de leve pelo corredor e finalmente chegou até a cozinha. Sem muita cerimonia abriu a geladeira, bebeu água direto no gargalo, deu umas duas mordidas num pedaço de queijo amarelo, beliscou um pedaço da carne assada do jantar e deu mais um gole na água. Agora com a sede saciada e o estômago acalmado parecia que os últimos minutos não haviam acontecido.
Displicentemente Sarah se pôs a caminhar de volta par seu quarto. Mas depois de pouco mais que quatro pares de passo ela ouviu a porta de madeira da cozinha se abrindo. Ela não quis acreditar, mas teve certeza que era a porta que dava para o lado de fora da casa. Seu estômago se embrulhou e sentiu tudo se azedando dentro de si. A comida quis voltar par fora e a bexiga quase se soltou. Suas pernas bambearam e ela sentiu como se o sangue abandonasse o rosto e os braços. Por uma fração de segundo pensou em seu pai e logo depois em Samuel. Onde o maldito estava?
A menina conseguiu ouvir a respiração do invasor. Era gutural e arrastada. Pesada como chumbo. Quando entrava era forçada para dentro, como se estivesse a farejar o ar e quando saia parecia um leve rosnar de alguma besta. Ela ainda percebeu quando o invasor se pôs a andar. Era alguma coisa grande, pois a batida de seus pés no assoalho, por mais que parecessem ser cuidadosas faziam barulho. E o pior, parecia que possuía garras. Seu pirar era como o de um cachorro quando suas unhas batem no chão de madeira, só que muito mais assustador.
Assim que ela percebeu parte da natureza do invasor, arrumou forças de algum lugar se forçou a correr. De início tropeçou nas pernas, mas logo depois estava a trote firme. Mas, para sua infelicidade o invasor percebeu sua manobra e também começou a correr. Assim que ela chegou ao salão principal, o invasor a alcançou. Primeiro ela ouviu um rosnar baixo e logo depois, com um leve movimento de braço, ele a derrubou no chão e pousou sobre ela. Os olhos verdes da besta fitavam os de Sarah como se saboreasse se medo. Ela estava tão abalada com aquilo que em sua cabeça ela estava gritando a plenos pulmões, mas na verdade apenas soltava um leve guinchado pela boca escancarada. Ele lambeu o pescoço dela. Sua saliva era muito quente e parecia ser ácida, fazendo com que a menina sentisse grande ardência onde ela tocara. O animal não falava, apenas rosnava e mostrava os dentes em sua boca descomunal e escancarada, arranhava o piso de madeira, arrancando grandes lascas, como forma de ameaça. Mas não parecia que iria mata-la ou comê-la. Pelo menos não naquele momento, não ali.
Num movimento ágil, ele se colocou de pé e com apenas uma mão agarrou Sarah pela cintura, a colocou sobre o ombro e voltou a se dirigir para o corredor da cozinha. A essa altura ela já havia esvaziado a bexiga diante de tanto terror. Em um momento estava deitada em sua cama, com seu travesseiro de penas e agora estava sobre um colchão de pelos negros, duros, sujos, molhados e fedidos, sendo levada para onde nem queria imaginar. O invasor seguia rápido, quase de quatro, por ora usando seu braço livre como um apoio para impulsionar seu avanço.
Quando estavam prestes a cruzar o arco que unia o corredor a cozinha, Sarah percebeu que marcha parou. Agora o invasor sacudia de um lado par outro. Em um instante o braço que a segurava sobre seu ombro se afrouxou se mudou de ponto de interesse. Ela aproveitou para escorregar pelas costas do monstro e chegar ao chão, mas não sem antes experimentar a péssima sensação de passar pela cauda peluda do invasor.
Agora no chão, ela viu o invasor, um ser asqueroso de pelos longos, ombros largos e braços fortes, com a cabeça quase chegando até o teto, lutar com alguma coisa a sua frente. Ele estremecia freneticamente, alguma coisa a na sua frente o havia pego, o golpeava e parecia que o segurava de forma firme, pois ele tentava se curvar, mas não conseguia.
Aos poucos um cheiro de ferro tomou conta do ar. A menina então percebeu que uma enorme poça estava se formando aos pés de seu sequestrador. Aos pouco, conforme a poça ia aumentando, ela percebeu que o corpo do invasor ia perdendo as forças. Seus movimentos estavam cada vez mais fracos, mais fracos e sem vontade. Até que ele ficou completamente inerte. Por um momento ela sentiu um alivio tão grande que se permitiu começar a chorar. Mas logo voltou a ficar apreensiva. Se um monstro daquele fora abatido de forma tão eficiente, o que a aguardava dentro da cozinha? Desta vez ela não conseguiu nem se mover. Viu o corpo do seu sequestrador regredir. Aos poucos os pelos diminuíram, os membros encurtaram, a cabeça voltou a ser como a de um homem e a cada deixou de existir. No final havia apenas um homem magricelo e de cabelos negros, preso pelo pescoço dentro da boca de um animal tão grotesco como ele um dia fora. O ser que segurava o homem dentro de sua boca era um pouco mais baixo, mas muito mais forte. Peitoral largo como um barril, braços que pareciam pernas, seu pelo era curto e branco como a neve, seu fuço era curto, mas, em compensação, sua mandíbula era larga como nos cães “bull terrier”.
Sarah estava cega de medo e a visão do homem morto despencando de dentro daquela boca cheia de dentes e sangue a fez desmaiar.
Quando acordou estava deitada em sua cama. Sentiu novamente uma maldita pulga picando seu pé. Ela percebeu que seu pai dormia em uma cadeira no canto do quarto e o grande monstro de pelo branco dormia ao lado de sua cama, quase colado a ela. Agora ela percebeu que era Samuel. Ela deu um leve sorriso, aliviada. Suas feridas estavam tratadas, sua pele limpa e sua roupa trocada. Ainda deitada na cama ela viu que Samuel acordou. Ele girou sua enorme cabeça de lobo-homem para ela, a olhou com seu olhos amarelos como se perguntasse como ela se sentia. Sarah simplesmente sorriu, deixou que sua mãos deslizasse para fora, sobre o pelo de seu guardião. Ele, sentindo o toque e o afago de sua protegida, apoiou a cabe sobre os braços e cerrou os olhos.
Sarah, fechou os olhos também e relembrou de tudo que aconteceu. Por um segundo voltou a se alarmar, mas o toque do pelo de Samuel em suas mãos, aliado ao movimento de sua respiração tranquila, fez com ela novamente adormecesse e não temesse mais nada naquela noite.
Deitou-se de lado para tentar dormir novamente, mas sentiu um leve incomodo na garganta. A sede lhe assaltara de forma que agora incomodava e a forçava a ir até a cozinha. Isso a irritou, mas sabia que se não o fizesse, não conseguira voltar a dormir.
Lentamente se sentou na beirada da cama, calçou um pé do chinelo e tateou com um pé descalço na escuridão do quarto a procura do outro. Assim que o calçou se pôs de pé e caminhou lentamente até a porta, ainda remoendo a sensação do pesadelo. Aquela maldita mansão velha a enchia de medo e calafrios. Durante a noite todo o piso e o telhado estavam constantemente. Quando estava quase pegando na maçaneta, teve um segundo de vacilo e voltou para perto da cama. Apenas a luz da lua cheia não seria o suficiente. Acendeu um pequeno abajur que ficava ao lado da cama se sentiu mais confiante agora. Com passos decididos e firmes atravessou o quarto novamente e num único movimento abriu a porta.
Não havia ninguém. Samuel deveria estar ali. Ele havia sido designado pelo pai de Sarah para fazer a guarda da porta da filha. Aqueles eram tempos difíceis e nenhuma brecha poderia ser dada. A ausência de seu guarda fez com que a menina vacilasse. Samuel era obediente e nunca abandonava seu posto. Levemente Sarah tocou o batente da porta e sentiu que ainda estava quente, como se ele estivesse encostado ali a poucos instantes. Era uma noite fria e provavelmente seu guardião deveria ter ido ao banheiro. Esse pensamento fez com que ela relaxasse. Assim que tencionou as pernas para dar o primeiro passa para o corredor que levava até as escadas, sentiu uma leve picada em seu tornozelo. O tapete estava novamente infestado de pulgas. Aquilo a irritou de maneira tal que acabou por esquecer-se do pesadelo e do sumiço de Samuel.
Tentando coordenar suas passadas pelo corredor com breves coçadas no tornozelo, ela venceu a distancia até as escadas e se deparou com o salão interior da mansão. Nele havia corredores que direcionavam par o salão de entrada, logo a frente, para algumas salas de estudo, biblioteca, banheiros, dormitórios dos empregados e cozinha. Este último lugar sendo seu destino e lugar de interesse. Ao vislumbrar o amplo salão vazio, apenas iluminado pela luz prateada de Luna que tocava a mobília, os quadros e a tapeçaria, Sarah sentiu um leve arrepio subir por suas costas. Não sabia ao certo se era o medo voltando a apertar o peito ou o frio invadindo as pernas de seu pijama curto.
Degrau a degrau ela desceu as escadas, com sua mão suada tocando o corrimão gelado de metal. Os sons da casa ainda a assustavam, mas ela continuou. Seguiu com passos apertados e rápidos, passou pela lateral da escada, ouviu um ou outro barulho vindo dos alojamentos dos empregados... Ora um ronco, roa um gemido de alguma fornicação. Ela chegou a ter um relance de curiosidade, mas um estalo um pouco mais forte no piso a fez voltar a ideia original.
Deu uma corridinha de leve pelo corredor e finalmente chegou até a cozinha. Sem muita cerimonia abriu a geladeira, bebeu água direto no gargalo, deu umas duas mordidas num pedaço de queijo amarelo, beliscou um pedaço da carne assada do jantar e deu mais um gole na água. Agora com a sede saciada e o estômago acalmado parecia que os últimos minutos não haviam acontecido.
Displicentemente Sarah se pôs a caminhar de volta par seu quarto. Mas depois de pouco mais que quatro pares de passo ela ouviu a porta de madeira da cozinha se abrindo. Ela não quis acreditar, mas teve certeza que era a porta que dava para o lado de fora da casa. Seu estômago se embrulhou e sentiu tudo se azedando dentro de si. A comida quis voltar par fora e a bexiga quase se soltou. Suas pernas bambearam e ela sentiu como se o sangue abandonasse o rosto e os braços. Por uma fração de segundo pensou em seu pai e logo depois em Samuel. Onde o maldito estava?
A menina conseguiu ouvir a respiração do invasor. Era gutural e arrastada. Pesada como chumbo. Quando entrava era forçada para dentro, como se estivesse a farejar o ar e quando saia parecia um leve rosnar de alguma besta. Ela ainda percebeu quando o invasor se pôs a andar. Era alguma coisa grande, pois a batida de seus pés no assoalho, por mais que parecessem ser cuidadosas faziam barulho. E o pior, parecia que possuía garras. Seu pirar era como o de um cachorro quando suas unhas batem no chão de madeira, só que muito mais assustador.
Assim que ela percebeu parte da natureza do invasor, arrumou forças de algum lugar se forçou a correr. De início tropeçou nas pernas, mas logo depois estava a trote firme. Mas, para sua infelicidade o invasor percebeu sua manobra e também começou a correr. Assim que ela chegou ao salão principal, o invasor a alcançou. Primeiro ela ouviu um rosnar baixo e logo depois, com um leve movimento de braço, ele a derrubou no chão e pousou sobre ela. Os olhos verdes da besta fitavam os de Sarah como se saboreasse se medo. Ela estava tão abalada com aquilo que em sua cabeça ela estava gritando a plenos pulmões, mas na verdade apenas soltava um leve guinchado pela boca escancarada. Ele lambeu o pescoço dela. Sua saliva era muito quente e parecia ser ácida, fazendo com que a menina sentisse grande ardência onde ela tocara. O animal não falava, apenas rosnava e mostrava os dentes em sua boca descomunal e escancarada, arranhava o piso de madeira, arrancando grandes lascas, como forma de ameaça. Mas não parecia que iria mata-la ou comê-la. Pelo menos não naquele momento, não ali.
Num movimento ágil, ele se colocou de pé e com apenas uma mão agarrou Sarah pela cintura, a colocou sobre o ombro e voltou a se dirigir para o corredor da cozinha. A essa altura ela já havia esvaziado a bexiga diante de tanto terror. Em um momento estava deitada em sua cama, com seu travesseiro de penas e agora estava sobre um colchão de pelos negros, duros, sujos, molhados e fedidos, sendo levada para onde nem queria imaginar. O invasor seguia rápido, quase de quatro, por ora usando seu braço livre como um apoio para impulsionar seu avanço.
Quando estavam prestes a cruzar o arco que unia o corredor a cozinha, Sarah percebeu que marcha parou. Agora o invasor sacudia de um lado par outro. Em um instante o braço que a segurava sobre seu ombro se afrouxou se mudou de ponto de interesse. Ela aproveitou para escorregar pelas costas do monstro e chegar ao chão, mas não sem antes experimentar a péssima sensação de passar pela cauda peluda do invasor.
Agora no chão, ela viu o invasor, um ser asqueroso de pelos longos, ombros largos e braços fortes, com a cabeça quase chegando até o teto, lutar com alguma coisa a sua frente. Ele estremecia freneticamente, alguma coisa a na sua frente o havia pego, o golpeava e parecia que o segurava de forma firme, pois ele tentava se curvar, mas não conseguia.
Aos poucos um cheiro de ferro tomou conta do ar. A menina então percebeu que uma enorme poça estava se formando aos pés de seu sequestrador. Aos pouco, conforme a poça ia aumentando, ela percebeu que o corpo do invasor ia perdendo as forças. Seus movimentos estavam cada vez mais fracos, mais fracos e sem vontade. Até que ele ficou completamente inerte. Por um momento ela sentiu um alivio tão grande que se permitiu começar a chorar. Mas logo voltou a ficar apreensiva. Se um monstro daquele fora abatido de forma tão eficiente, o que a aguardava dentro da cozinha? Desta vez ela não conseguiu nem se mover. Viu o corpo do seu sequestrador regredir. Aos poucos os pelos diminuíram, os membros encurtaram, a cabeça voltou a ser como a de um homem e a cada deixou de existir. No final havia apenas um homem magricelo e de cabelos negros, preso pelo pescoço dentro da boca de um animal tão grotesco como ele um dia fora. O ser que segurava o homem dentro de sua boca era um pouco mais baixo, mas muito mais forte. Peitoral largo como um barril, braços que pareciam pernas, seu pelo era curto e branco como a neve, seu fuço era curto, mas, em compensação, sua mandíbula era larga como nos cães “bull terrier”.
Sarah estava cega de medo e a visão do homem morto despencando de dentro daquela boca cheia de dentes e sangue a fez desmaiar.
Quando acordou estava deitada em sua cama. Sentiu novamente uma maldita pulga picando seu pé. Ela percebeu que seu pai dormia em uma cadeira no canto do quarto e o grande monstro de pelo branco dormia ao lado de sua cama, quase colado a ela. Agora ela percebeu que era Samuel. Ela deu um leve sorriso, aliviada. Suas feridas estavam tratadas, sua pele limpa e sua roupa trocada. Ainda deitada na cama ela viu que Samuel acordou. Ele girou sua enorme cabeça de lobo-homem para ela, a olhou com seu olhos amarelos como se perguntasse como ela se sentia. Sarah simplesmente sorriu, deixou que sua mãos deslizasse para fora, sobre o pelo de seu guardião. Ele, sentindo o toque e o afago de sua protegida, apoiou a cabe sobre os braços e cerrou os olhos.
Sarah, fechou os olhos também e relembrou de tudo que aconteceu. Por um segundo voltou a se alarmar, mas o toque do pelo de Samuel em suas mãos, aliado ao movimento de sua respiração tranquila, fez com ela novamente adormecesse e não temesse mais nada naquela noite.
quarta-feira, 22 de junho de 2011
Eu, mulher e minhas dúvidas. (+16)
A vida transcorre de forma que você menos imagina e planeja. Se hoje você é capaz de afirmar uma coisa a plenos pulmões, amanhã vem uma rasteira e te põe abaixo, de cabeça ao contrário, só para te fazer ver as coisas por outro ângulo. Meu nome? Ah, não importa, né? Idade... Hum, até que sou gostosa e isso basta. Agora posso dizer que eu me pegaria!
Vamos lá. Tudo rolou quando ela ainda estava trabalhando perto de mim. Nunca tivemos nada, nunca mesmo, longe de mim. Sempre conversamos muito, sobre tudo, tudo mesmo! Pode acreditar. Ela sempre me falava tudo a respeito das loucuras que fazia, falava que eu tinha que fazer igual, mas sempre fui muito retraída. Sei lá, nem por conta da minha criação, sempre fui muito na minha mesmo. Ela me falava mundos e fundos de orgasmos, masturbação, línguas e boca, dedos, homens e mulheres. Nossa, eu nunca sonhei em pegar dois caras, quanto mais dar para dois. E pegar mulheres? Menos ainda. E a vida que segue, amizade a toda prova. Até que conheci um carinha, bem legal, bom papo, boa pegada e acabamos por namorar. Isso fez com que ela se afastasse um pouco. Não por ciúmes, até porque ela nunca demonstrou isso, apenas se afastou pelo fato de eu estar mais ligada a ele, com meus interesses direcionados para o meu namoro.
Mas a vida... Amizade, de verdade, é uma coisa forte. Uma vez ela estava mal, coisas aconteceram e ela precisou um ombro para chorar e alguém para conversar. Liguei para ele, comuniquei a situação e fui. E mulher é assim, adota a dor da outra. Conversa vai, conversa vem e fui me sensibilizando, passei a partilhar a dor dela. Tanto que acabei sugerindo que fossemos beber alguma coisa para ajudar a aliviar, o álcool sempre ajuda o coração a se abrir mais facilmente. Caipifruta de um lado, shot de tequila de outro e já estávamos rindo sem se lembrar dos problemas dela e dos meus também. Sou uma dama, fato, mas sou resistente ao álcool, posso beber como um menino e sair muito bem da mesa. Já a minha amiga, que é a “do mundo”, acabou ficando mal na terceira dose de uma coisa qualquer, que não me lembro agora. Resultado: Acabei levando ela até a sua casa, tive que tirar o sapato dela, soltar aquele cabelo todo, tentar fazer ela escovar os dentes e fazer ela deitar na cama. Já que a doida queria dormir em qualquer canto. Ai, ai... Agora que começa, a danada estava bêbada, mas estava se fazendo de mais bêbada ainda. Se jogou na cama e pediu para eu ficar com ela, pois estava carente. Bem, já estava tarde mesmo, todo mundo já estava avisado que eu ia sair e ela é minha amiga... Me deitei ao seu lado naquela caminha e quase apaguei.
Quando eu estava quase dormindo, ela se virou de costas pra mim, se aninhou bem perto e pediu que eu a abraçasse, no estilo conchinha. Acho que nunca tinha percebido como o cheiro dela era tão gostoso e suave. Percebi que o cheiro do perfume que ela usava era doce, mas bem suave, aquele era o cheiro da pele dela e era muito gostoso. Quanto mais eu respirava fundo para sentir aquele cheirinho tão bom, mais ela se aproximava de mim, forçando as suas pernas a ficarem entre as minhas e com suas costas completamente coladas no meu peito. Engraçado como nos encaixamos tão bem. Ela começou a adormecer e, como um reflexo, pegou minha mão e puxou para a sua frente, abraçou meu braço como faria com um urso de pelúcia e ficou assim, sem se mover, mas minha mão parou bem em cima do peito dela. Nossa, que coisa, como aquilo me deixou constrangida, acho que fiquei vermelha até quase explodir. Mas assim que essa vergonha foi passando e meu coração se acalmando, voltei a sentir o cheirinho bom dela e num reflexo, juro que sem querer, juro mesmo, minha mão se contraiu e eu dei uma apertadinha de leve no peito dela. Nossa, foi muito diferente. Foi diferente por que senti o mamilo dela se eriçar todo na minha mão, sentir aquilo me deixou sem ação, senti os meus ficarem assim também. E a minha amiga se retorceu toda na cama, posso jurar que ela deu um gemidinho baixinho.
Depois disso não sei ao certo o que aconteceu, parece que as coisas se apagaram um pouco na minha cabeça, me lembro que gostei de ver ela respondendo ao meu toque e fiz de novo. E de novo, e de novo, até que teve uma hora em que não resisti, apertei com vontade e ela acordou de vez, isso me assustou, eu quase soltei meu braço do dela e com voz de sono misturada com charminho, ela pediu que eu continuasse. Ela se rebolava entre as minhas pernas a cada toque inseguro, hora eu experimentava somente os mamilos, hora o seio todo e nem preciso dizer que ela teve a iniciativa de por minha mão por dentro da blusa dela. Nossa, não era possível, mas eu estava sentindo o meio das minhas pernas se molhar com o tesão que eu começava a sentir, a sentir pela minha amiga! Como podia ser isso? Era uma delicia ver q eu era capaz de fazer aquela maluqinha se sentir assim. Sentindo que eu já estava completamente molhada e vendo que já estava ali mesmo, resolvi “ver” como ela estava, então desci minha mão ate suas cochas, subi seu vestido e ela se abriu toda, era isso mesmo que ela queria, puxou a calcinha para o lado e sussurrou pedindo que eu fizesse com ela o que eu quisesse. Ai, ai, por que ela foi falar assim? Nunca haviam falado isso pra mim e logo ela foi dizer! Essas palavras foram mágicas, me firam ficar mais molhada ainda. Ela rebolava entre as minhas pernas, minha mão a explorava todinha, entrando e saindo, abrindo e fechando, apertando e suavizando, sobe e desce, movimento contínuo e suave até que ela gozou. Meu Deus, ela gozou tão gostoso, de forma tão intensa e forte, apertando minha mão entre suas cochas com tanta força que ate machucou meu dedo em que eu usava um anel.
Assim que ela terminou de relaxar, suavemente se virou para mim, olhou bem dentro dos meus olhos, puxou meu rosto, me deu um beijo tão gostoso e suave, mordeu meu lábio inferior de leve e depois adormeceu relaxada, agradecendo baixinho pelo momento. Quase imediatamente pude ouvi-la ressonando. Quanto a mim, eu ainda estava muito excitada, só me restou fazer o mesmo que fiz com ela. Me masturbei tão forte que tive que fazer força para não gemer alto quando consegui gozar sentindo o cheirinho gostoso dela.
Bem... Seguindo o exemplo da minha amiga, assim que gozei, adormeci, abraçada com ela, sentindo um sentimento de posse enorme e não sei explicar isso de jeito nenhum. Na manhã seguinte, que já era quase tarde, ela acordou, se levantou e me tratou como se nada tivesse acontecido. Fez café da manhã pra mim, me agradeceu por ter ouvido ela e por ter bebido junto com ela. Não mencionou nenhuma palavra sobre a noite e nem nada do que fizemos. Mas se fosse isso estaria muito bom, quando fui embora, nos despedimos com três beijinhos, sabe como é, costume aqui do Rio. Um de um lado, outro do outro e quando fui voltar para o primeiro lado, ela foi mais rápida e me deu um selinho mais demorado. A danada deu um sorrisinho lindo, ficou meio vermelha, disse tchau e fechou a porta.
Só me restou ir embora, pensando em tudo o que tinha acontecido e regando a sementinha da dúvida que foi plantada na minha cabeça. Hoje essa sementinha de dúvida se transformou em uma árvore grande e forte. É por isso que te contei tudo isso, o que você acha?
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Iguais, mas nem tanto (+16)
Passos apertados de Adália! O salto, relativamente alto, mas largo, estalava nas calçadas esburacadas das ruas do centro. Seu coração começava a sobressaltar dentro de seu peito, dando um tom róseo às suas bochechas e colo, generosamente exposto por um decote. Não que seu decote fosse impróprio para o ambiente de trabalho, mas seus seios é que eram completamente impróprios ao decoro de qualquer filho de Deus. Suas pernas cobertas por um saia de tecido grosso e preto eram cada vez mais impressas com o ritmo apressado da música que tocava em seu mp3 player, era alguma coisa como Rihanna ou Lady Gaga, de qual quer jeito ela não se lembraria. Ainda nas suas pernas, as passadas apertadas a fazia sentir uma ponta de raiva de si mesma, pois sentia as coxas grossas roçaram uma na outra, ela se culpava por ter comido todo o resto (metade do pote) de sorvete de flocos. Isso sim fazia com que suas coxas ficassem se esbarrando e seu quadril rebolante enquanto ela caminhava. Seu cabelo preto sacolejava do vento, as vezes grudando em seu rosto, já cingido pelo suor.
Em outro ponto, em alguma calçada igualmente esburacada, ou até pior, pela falta de pedras-portuguesas, Inês torcia o tornozelo quando seu salto finíssimo e alto do scarpin “rosa-chiclete-divino” vacilou em uma falta das pedras do piso. Meia dúzia de palavras de baixo calão veio a sua mente, ela chegou a deixar que alguns tomassem forma em sua boca, mas logo ajeitou os óculos de armação de tartaruga que comprou em um feira vintage imperdível e se pôs a caminhar. Os cabelos curtos, que deixavam a nuca, e a tatuagem do signo de peixes, a mostra já não apresentava mais o brilho que tinham de manha, quando ela tinha acabado de fazer a maldita escova, da qual ela ainda era escrava, mas que havia jurado que iria ganhar alforria, mais-dia-menos-dia. As unhas longas e bem cuidadas, pintadas com um azul escuro, que mais parecia roxo, brilhavam a luz do Sol. Os passos iam se tornam mais firmes a medida que ela se emputecia com os tropeços pelo caminho e com seu cabelo. Em conseqüência das pisadas firmes, seu “derriere” de brasileira, em contrate com seu pequenos seios, saltava freneticamente na calça social coladíssima em seu corpo, chamando a atenção de alguns trabalhadores que tratavam de erguer uma pequena edificação em alguma esquina suja do centro. Sim, é bem verdade que isso massageava o ego, mas ela não podia se dar ao desfrute de deixar isso transparecer.
Se fosse ensaiado não daria tão certo. Os dois namorados já estavam na frente do restaurante a algum tempo, logicamente por trabalharem juntos, conversavam amenidades e por vezes riam da falta de pontualidade de suas namoradas. Adália e Inês apareceram de lados opostos da calçada e chegaram juntas até onde seus respectivos pares estavam. Cada uma tratou de beijar o seu, dizer saudades, carinhos e demais melações. Após as demonstrações públicas de afeto, trataram de falar brevemente cada um com o par posto e trocaram três beijos falsos entre sim, quase sem tocar os rostos. Inês e seu acompanhante entraram primeiro, logo seguidos por Adália, abraçada ao seu respectivo. Ambas diziam aos pés dos ouvidos dos seus meninos o quanto achavam “a namorada do seu amigo sebosa e antipática!” E sempre recebiam em troca “ele é meu grande amigo de tempos, por favor, trate-a bem! Por mim, amor!” Seguido de um selinho ou de uma piscada de olhos.
Assim, seguiram conversas chatas e tediosas. Um caldo de legumes de entrada, seguida por uma belíssima “Cesar Salad”, acompanhada de água com gás e refrigerante de limão para todos, já que não podiam beber no horário de serviço. Sobremesa chegando e Inês se levantou sob o pretexto de precisar ir ao banheiro “se ajeitar”. Seu namorado abriu um largo sorriso e assentiu com a cabeça e um aceno de mão. O de Adália apertou levemente o braço dela, próximo ao se cotovelo, e pediu que acompanhasse a namorada do amigo ao banheiro, afinal “vocês são meninas, e meninas sempre vão ao banheiro e fazem essas coisas de meninas juntas!” “Vai lá, amor!”
Um touro com os colhões apertados teria sido mais amigável, uma bufada e um sorriso amarelo foram a única resposta ao pedido e a piada do rapaz.
Aquele era um restaurante antigo, tradicional do centro, conservava uma arquitetura antiga, tudo muito amplo e espaçoso. Uma higiene impecável era cobrada e assim as serventes o faziam.
Olhos ansiosos vasculhavam o lugar por uma oportunidade. Num gesto habilidoso e rápido Inês se pôs dentro de uma das cabines do banheiro e com força e vontade, agarrou o braço alvíssimo de Adália e a puxou para dentro. O trinco deslizou suave para dentro de seu leito. Os rostos colados, face a face, de olhos cerrados, deixavam escapar um sorriso malicioso, sentindo de leve a respiração uma da outra, e confessavam o quanto aquele teatro as excitava. Como num ritual, o sorriso diminuiu junto com a respiração, e as bocas se contraíram, formando um pequeno bico com os lábios, que se tocaram, de forma tão leve e efêmera que poderia ter sido considerado como se não houvesse acontecido. Mas o gesto se repetiu, de novo e de novo, cada vez mais forte, com mais pressão! Pressão suficiente para fazer com que os lábios se abrissem e ficassem mais relaxados. Logo os lábios de Adália e Inês deslizavam suaves um sobre o outro, molhados e quentes. Adália se relaxou toda nos braços de Inês, tanto que sua língua escapou inteira para dentro da boca que a beijava. Nunca uma língua foi sugada, lambia e provada com tanta sofreguidão e vontade. Era como se aquilo fosse o mais doce dos doces, como se fosse uma iguaria rara a ser deliciada. Mas essa iguaria deveria ser compartilhada. Adália abriu os olhos, se pôs ereta, ficou com as pernas separadas, com força e doçura, agarrou os poucos cabelos da parte de trás da cabeça de Inês e os puxou para trás. Isso fez com que ela soltasse um gemido de leve, projetasse o quadril para frente, roçando no de sua cúmplice e abrisse sua boca involuntariamente. Ao ver isso, Adália saltou sobre sua boca, com uma fome de peregrino do deserto e sorveu com lascívia e tesão toda a saliva que encontrou, puxou a língua de Inês junto com seu lábio e os mordeu com um pouco de força, o suficiente para doer e dar prazer ao mesmo tempo. Enquanto era dominada, Inês deslizava suas mãos pelo corpo da amiga, sentia todas as suas formas, media cada espaço, apertava, beliscava e fazia questão de cravar as unhas naquela carne deliciosamente macia.
Ah aquelas mão, como mãos tão pequenas e delicadas conseguiam fazer tanta pressão sobre o corpo de Adália, que estremecia a cada toque, a cada aperto. Como aquelas mãos conseguiam encontrar reentrâncias e espaços antes intocados de sua anatomia? Como é que alguém explica que ter a língua e os lábios mordidos por uma louca ensandecida, quase a ponto de sangrarem, é capaz de fazer com que seu sexo se molhe e contraria a cada sensação de dor e submissão?
Roupas são apenas um mero detalhe a ser contornado, nada que não possa ser abaixado, levantado, posto de lado, aberto, puxado, alargado, espremido ou, simplesmente, ser ignorado. A nudez parcial é muito mais tentadora e despudorada do que a nudez completa que apenas choca e revela mais do que deveria. A parcialidade guarda em si os segredos e as defesas inerentes as vestimentas cuidadosamente escolhidas.
Palavras não mais existiam, apenas a respiração ofegante e foda-se quem estiver de fora, ouvindo. Como é delicioso o gosto do prazer alheio descendo por sua boca, fazendo que com que suas narinas fiquem inebriadas por todo aquele aroma de excitação. Tudo desliza mais fácil! Dedos, língua e clitóris se confundem. Suavemente a ponta da língua toca os pequenos lábios, quase um toque mágico para que eles se abram junto com as pernas que já não podem mais se abrir, por falta de espaço no local ou nas roupas em que estão, em parte, vestidas. Finalmente o clitóris é revelado, quase como um prêmio, uma jóia. Essa sim, a iguaria, o doce dos deuses a ser deliciado para poder deliciar sua dona. Primeiro apenas a respiração do nariz pode tocá-lo, para depois, de forma ansiosa e contida a língua. Um primeiro contato, que gera uma onda de choque no corpo de quem recebe e reverbera no corpo de quem dá. Esse é o sinal, aos poucos a língua se torna mais íntima e logo os lábios são convidados a participar. Lábios de uma boca tocam outros lábios, esses mais guardados e reclusos. O beijo é intenso e trocado com vitalidade. É sugado e pressionado, mas ainda incompleto. Ainda falta um participante da festa, alguém que é curioso e intrépido. Lentamente o beijo se desenrola, língua e clitóris, lábios e lábios, clitóris e lábios, se tocam, se roçam e intensificam o amor, o calor, o ardor, a chama, a dor, o prazer, a vontade de se apertar, de se espremer, de tornam tudo mais molhado e perfumado. As mãos são incessantes, brincam e desafiam, apertam, beliscam, arranham e até batem. Descem da bunda deliciosa e brincam de alisar e beliscas de leve por entre as coxas, cada vez mais para cima, cada vez mais próximas da festa, do beijo. Timidamente, ainda na entrada, um dedo toca a entrada, tão molhada, que ele poderia ter deslizado para dentro num único movimento. Mas não, nada de pressa, milímetro por milímetro ele conquista seu avanço para o interior dela, aos poucos a entrega se completa, em questão de segundos o dedo bem treinado encontra o que procurava, a pequena parte levemente enrugada, sensível ao extremo, conectada a todo o corpo de sua dona. Cada toque, cada movimento, cada ação faz com que seu corpo responda de uma forma absurdamente amplificada. O beijo, a língua, o clitóris, os lábios, o toque, o dedo, pele, cheiro, gosto, tudo, tudo! Em uma explosão de contrações musculares, em todo o corpo, simultaneamente e de forma repetida, nasciam de dentro de seu sexo, percorriam cada espaço de seu abdômen, peito, pernas braços, cabeça e retornavam para seus meios e assim permaneceram, até que se tornaram cada vez mais espaçados e fracos, até sumirem. Com o sumiço veio o relaxamento, as pernas bambas, o êxtase. A satisfação, ainda que momentânea, veio, mas logo dará lugar a vontade, ao anseio de querer ter mais!
Quem deu? Quem recebeu? O que importa? Importa que ambas ganharam, sempre!
Retoques e acertos a parte, retornam para a mesa sob os protestos de demora, que logo são cortados sob a explicação de um mal estar súbito. Elas ainda mantêm as caras meio amarradas uma para a outra. O teatro continua, a pequena farsa, e é isso que as mantém juntas. O amor, a farsa, o perigo, o inusitado, mas, acima de tudo, a admiração pelas loucuras e prazeres alheio.
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