quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Cenas de um dia de paz

O chão sob seus pés é fofo e parece afundar conforme você caminha. Sua garganta está arranhando quando a saliva é engolida, ao olhar para esquerda um amigo é avistado e ele acena para você, com o mesmo gesto você retribui. A caminhada termina, o vendo sopra com força, mas não é suficiente para secar o suor que corre na sua testa, uma gosta insiste em irritar seu olho quando você pisca tentando se livrar dela, sem se importar com a mão suja de lama e grama você limpa o suor da testa e de seus olhos.

Um som estridente é ouvido e logo em seguida suas pernas se movimentam alucinadamente, ao mesmo tempo em que o nome de uma pessoa é ouvido. O seu movimento muda bruscamente de direção, agora a corrida é em direção a uma pessoa que tenta se livrar do amigo que havia acenado para você. Num movimento rápido você se abaixa, se mete por baixo de toda a confusão, agarra a camisa e o short do seu amigo que este no chão, trava as chuteiras no solo e empurra com toda força. Suas orelhas são esmagadas e alguma coisa bate contra sua cabeça, mas nada importa, você deve proteger seu amigo e a bola... Ah a bola! Ela é o objeto do seu desejo nesse dia! É por ela que sua vontade te move, você a deseja, a quer perto do sue corpo.

Rapidamente ela é retirada de todo aquele caos, de todo aquele amontoado de pessoas, pernas, braços, chuteiras, cabeçadas, pisadas bruscas, lama, suor e grama. Dor, sua companheira desses momentos. Algumas partes do seu corpo doem muito e outras ainda estão dormentes, parecem formigar. Você ainda nem conseguiu entender a dor e já esta de pé, correndo atrás da bola. Um estalo e a dor no seu pescoço parece dar uma trégua, o joelho não responde como deveria, mas isso não importa, a bola importa! Rapidamente você a localiza e observa seu trajeto de mão em mão, é lindo! Como um balé brutal, dançado nos ares, ela segue. Agora ela está peto de você, seu desejo aumenta e a corrida em sua direção é praticamente instintiva. Agora ela está a poucos passos e sem conseguir mais se segurar você clama por ela.

Isso funciona e acontece: voando ela se encaixa perfeitamente entre suas mãos, como a cintura de uma bela mulher, com corpo escultural. Num único movimento ela é retida pelos seus dedos e forçada contra seu peito. A corrida continua e passo após passo, o avanço é visivelmente rápido. Com uma das mãos você a mantém presa junto ao seu corpo e com a outra, feroz e preciso, afasta para longe de si “um adversário qualquer” que tentou retirá-la de seu poder. Os passos se seguem, mas logo ocorre um violento impacto, mais estalo e a dor vem forte, seu joelho não está como deveria! E isso não importa, a glória foi alcançada, a bola foi posta onde deveria estar, no fim do campo adversário! A dor é logo esquecida e substituída pela alegria de ser saudado pelos seus amigos.

Você precisa se levantar, receber alguns abraços e cumprimentos, se concentrar, pois o momento acabou, vai acontecer tudo novamente...

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Essa é a minha paz, isso é o rugby, é assim que vivo bem, é isso que amo, é isso que quero para mim!
Nas sábias palavras de um velho amigo do rugby: "Não há nada que um dia de rugby não cure!"